fevereiro de 2011
KIKO DINUCCI: MUITO ALÉM DOS RÓTULOS
Christiane Gomes
fotos GINA DINUCCI
xilogravuras KIKO DINUCCI
O MENELICK 2º ATO: Como foi essa transição do metal/punk para a música brasileira?
KIKO DINUCCI: Acredito que toda revolução não acontece da noite para o dia. Na verdade é uma panela de pressão, toda mudança é assim. Na época que eu tocava nas bandas punk eu já ouvia Gilberto Gil, Tom Jobim. O que aconteceu e foi mais decisivo, foi enxergar além da MPB. Perceber que os compositores de samba dialogavam com a postura punk que eu tinha. Isso foi um estalo, mas nada radical. Não cheguei um dia no ensaio da banda punk com sambas, mas aconteceram vários choques. Eu aparecia no ensaio com algo mais de samba e os caras do rock se fechavam muito para essa mistura. Embora o rock tenha todo um histórico de rebeldia e quebra de tabus, depois dos anos 80, ele foi ficando cada vez mais duro e menos aberto pra mudanças e ousadias. Hoje em dia acho que é o estilo mais conservador. Quem quiser mudar alguma coisa será tratado como traidor do movimento.
OM2ºATO: A música que você faz é mais aberta?
KD: Ela permite qualquer coisa. A minha luta é deixá-la aberta para encaixar qualquer coisa que se possa imaginar: de música da Indonésia até o free jazz de Chicago. Minha meta é poder tocar e dialogar com qualquer pessoa no mundo. Do meu jeito, com minha identidade, mas aberto.
OM2ºATO: E a África, o candomblé, a música africana, como tudo isso entrou na sua vida?
KD: Eu lembro que quando tocava com a banda punk, os caras não queriam cantar em português. Eu forçava a barra, mas eles achavam que o português não encaixava com o rock. Havia esse mito antigamente, principalmente quando estourou o Sepultura. Daí eu falei que já que o problema era o português eu ia fazer uma música em outra língua sem ser o inglês e levei pro ensaio uma música em quimbundo. Escrevi toscamente, aglomerei o vocabulário e fiz a letra. Cheguei no ensaio, mostrei e todo mundo me olhou com aquela cara: “o Kiko ficou louco”. O quimbundo tem um som engraçado e ainda hoje eu o uso bastante, mais até que o ioruba. Gosto muito do som. Mas o que forçou muito tudo isso foi o samba e minha busca de descobrir o que veio antes dele. Eu já prestava muita atenção nas manifestações rurais daqui do estado de São Paulo, como jongo, congada, batuque e para chegar ao candomblé foi dois palito. Cheguei nele primeiro para pesquisar música, depois surgiu o filme do Exu (o documentário Dança das Cabaças) e quando eu vi, já estava dentro da religião. Hoje em dia eu não separo muito o que é fé, música, dança. Está tudo num pacote só chamado candomblé que, para mim, é mais que uma expressão cultural é uma coisa espiritual.
OM2ºATO: Mas ele, o candomblé, alimenta sua arte?
KD: Sim, totalmente. Cada vez mais. Ele é regular. Tento evitar muitas vezes até por conta dessa necessidade de me colocarem um rótulo. Tem gente que acha que eu só componho macumba. E eu posso fazer qualquer coisa. Posso cantar um bolero romântico, um reggae, uma guarania paraguaia. Tento ampliar o máximo possível porque também não quero ficar preso à África ou a algum estereótipo afro-brasileiro (o que é bem fácil de acontecer) principalmente na música. Fora que a música afro-brasileira é ampla pra caramba de ponta a ponta do Brasil. Todas as músicas que compus e que tem a ver com orixá não foi proposital, se manifestou, surgiu. Quase como se o orixá tivesse falando. Nunca sentei e pensei: bom, agora vou compor uma música para o orixá. Vem naturalmente. Por enquanto está assim. Pode parar também um dia, sei lá….
OM2ºATO: Você se incomoda com esses rótulos que te colocam?
KD: Ah, eles sempre vão existir. A luta é mostrar que se pode ir por outro caminho. Não é por acaso que meus quatro discos são tão diferentes um do outro. Acho que muito dessa questão do rótulo tem a ver com a falta de informação. Se rotula aquilo que não se sabe o que é, mas eu fico feliz porque nunca é o mesmo rótulo que me dão. Se fosse só de cantor de macumba me incomodaria. Tem gente que me compara ao Adoniran ou à Vanguarda Paulistana. Um dia fui na livraria cultura e comecei a procurar meus discos. Um estava no regional, outro no pop rock, outro em MPB. Achei o máximo: três discos diferentes, cada um em uma sessão. Meu desafio é ocupar todos: música erudita, jazz (rsrsrsrs)
OM2ºATO: Essa diferença nos seus discos é consciente?
KD: Eu não busco fazer diferente. Acontece e eu aceito. Eu não gosto daquele pensamento de que repetir fórmula faz nascer um estilo. Isso acontece também porque cada disco é uma parceria diferente e nele tem muito a mão dos parceiros que decidem bastante a personalidade do trabalho. Quando um disco é lançado estou fazendo shows de outros discos que virão. Disco pra mim é uma polaroid da época. Na Boca dos Outros eu fiz três ou quatro shows do disco, porque quando ele saiu eu já estava fazendo outros trabalhos, outras músicas. Mas eu gosto e aceito isso sem problemas.
OM2ºATO: Muitos o aproximam e o comparam à vanguarda paulistana. Te chamam de nova música brasileira. Isso te agrada?
KD: É que esse pode ser um caminho mais fácil para o jornalista. Em São Paulo, depois do tropicalismo dos anos 70 e até os anos 80, a única coisa que aconteceu de interessante na cena musical da cidade foi a Vanguarda Paulistana, que foi algo muito inovador e que não teve nenhum reconhecimento na época. Hoje eu percebo que a minha geração, não dialoga muito umas com as outras musicalmente. Fica cada um isolado em seu trabalho. Ao mesmo tempo, a gente herdou da turma do Itamar, do Arrigo, uma postura mais outsider de palco e visual mesmo. Porém o som ainda é muito preso aos modelos das gravadoras. Tudo mundo lança o disco, faz o show do disco, com o cenário da capa do disco, excursiona dois anos tocando as mesmas músicas. Pra mim essa é uma coisa que seria normal o Djavan fazer, porque é um artista que viveu esse modelo do boom das gravadoras. Romper com isso seria uma ousadia boa pra minha geração. Acho que sei lá, estamos num processo, talvez mais pra frente a gente consiga dialogar mais um com a obra do outro. Embora tenha esse movimento, essa nova música brasileira de SP não tem um ponto em comum.
Eu to tentando subverter isso. E também o lance da assessoria de imprensa. Muito dessa vitrine é fruto do trabalho do um assessor. Você o paga e ele te coloca em todas as revistas e jornais. Isso pode parecer uma coisa falsa pra quem é de fora. Um cara da Paraíba que lê uma matéria falando da “nova música brasileira” pode pensar: “ah, não peraí”. Se eu fosse de outro estado ia ficar puto da vida com uma matéria falando da nova musica brasileira com uma turma toda de Sampa. Acho que hoje a música é o menos está importando. Tem muito isso: uma aparição na mídia, cada um focado no seu trabalho, mas não tem, como na época da vanguarda paulistana, pontos em comum. Nos anos 80, todo mundo tentava fazer uma música que se aproximasse mais da fala. Os grupos, em especial o Itamar, o Arrigo e o Rumo tinham isso em comum, além do humor ácido, extravagante, sarcástico, urbano e da vontade de romper com as barreiras sonoras. A geração nossa tem um comportamento mais próximo à Tropicália de aparecer na mídia de uma forma mais provocadora, do que da vanguarda que se preocupava mais com a música mesmo. Na minha geração as pessoas estão bem vestidas, são legais e modernas, mas as músicas não estão dialogando umas com as outras. Acho que a única coisa latente que talvez seja negativa, mas signifique uma transformação na música é a falta de melodia mais definida na canção. Eu cresci ouvindo Assis Valente que é a melodia definindo a música e todo mundo da minha geração vem de um período com mais influência do pop e tudo ficou focado na produção. Essa nova geração tem os timbres muito bonitos, um clima legal que combina com a estética da proposta do artista, mas não uma puta melodia que você vai sair assoviando por aí. Acho que é uma característica da nova geração. E aqui eu não me incluo porque minha escola foi outra, assim como a do Rodrigo Campos, Alessandra Leão que estão muito focados na música popular. E ela se não tiver uma puta melodia não tem muito sentido. Mas essa também pode ser uma visão arcaica também que é a canção que só pode ter uma melodia pra grudar no ouvido da pessoa. É uma transformação que talvez seja uma herança daquele jeito falado de se cantar da vanguarda paulistana. Talvez seja esse o elo de ligação com a nova geração. Uma melodia mais abstrata que não existe por si só, mas que precisa do timbre, da produção e da harmonia pra ficar bacana. Vamos esperar uns anos pra ver no que vai dar.
OM2ºATO: Você tem saído bastante de São Paulo. Como sente quando vai para outro estado? Como é a receptividade?
KD: Eu vejo que do mesmo jeito que está tendo essa nova música aqui em São Paulo (se é que pode ser chamada de nova) está rolando também em todo lugar do Brasil. Tenho certeza de que em qualquer estado, qualquer capital, se vê um grupo diferente, mostrando algo novo. Nos anos 90 foi isso que alimentou a música: gente de outros estados. Pega os compositores de MPB que apareceram, todos eram nordestinos, Chico César, Zeca Baleiro, Lenine, toda a galera que estourou nessa época foi o que alimentou os anos 90 musicalmente. Por um lado, acho boa essa coisa de Sampa, porque alimenta a autoestima que estava meio perdida, estava lá atrás. Aqui tem sim uma cultura própria, é só querer enxergar. No meio desses prédios todos, há sim uma cultura muito particular. Agora eu creio que tem coisa acontecendo no Brasil inteiro. Eu acho que essa geração minha ia aprender muito se desbravasse mais o país. Por isso eu bato na tecla de que o modelo deles ainda é careta e baseado nas grandes gravadoras, porque um grupo só sai daqui de SP se puder levar o show do disco, com a banda do disco, com toda a estrutura do disco. Quando eu saio do estado eu vou sozinho. Pego o violão, corro atrás de um contato com músicos já feito pela internet e monto uma banda lá. Eu passo a música para os caras, eles passam a deles pra mim e a gente cria uma terceira coisa num esquema de guerrilha, meio Frankstein. As vezes vou sem cachê, chego lá e vejo qual é. O resultado disso, de troca de informação com outros artistas locais é uma coisa que se eu fosse com minha banda fechada não iria acontecer.
OM2ºATO: Tem que se jogar, então?
KD: Acho que tem que meter a cara, desbravar. Isso é uma coisa que eu herdei do punk e que tenho muito orgulho. A galera só vai se tiver um cachê, hotel e nem sempre é assim. Isso é irreal para o país que a gente vive. Minha meta pra 2011 é fazer isso mais, tanto no Brasil quanto fora dele. Irei pros Estados Unidos agora em março na raça. Vai ser um festival que não paga cachê. Vou com Thiago França e mais uma pessoa na bateria. Vamos tentar apoio do Minc mas se não tiver a gente vai assim mesmo. Estamos fazendo uns shows aqui pra ter um caixa. Vamos só gastar, mas iremos em cinco cidades, mostrando nosso trabalho e a gente tem a internet para nos favorecer. Tem que aproveitar isso. Qualquer lugar que eu chego do Brasil eu encontro pelo menos uma pessoa que já baixou meu disco. Por exemplo, em João Pessoa a maioria das pessoas já me conhecia da internet, outra parte daquela coletânea da Revista + Soma, mas teve um povo que conheceu ali, na hora. Quer dizer, se eu não estivesse ali tocando, essas pessoas não conheceriam meu trabalho.
A reação está sendo bem legal fora de SP e é um desafio constante. Fui fazer um show em Nova Olinda, em Pernambuco com Juçara Marçal e Thiago França na Fundação Casa Grande. Mantida por crianças, lá elas fazem programas de rádio e televisão e todas já sabem o que serão quando crescer. Agora imagina, a gente lá, tocando para um monte de criança que nunca ouviu a minha música e interagir com elas é maravilhoso. Acho então que o caminho é esse, sair de São Paulo, ver como é o Brasil. A gente aprende muito e isso se torna inspiração para minha música.
OM2ºATO: As parcerias são constantes em seu trabalho. È uma característica marcante?
KD: Quando eu faço parcerias e delas nascem um disco ou um show, acredito que é uma maneira de montar uma banda sem me estressar. Quando se monta uma banda todo mundo gosta, mas passado um tempo cada um tem uma expectativa, uma percepção do trabalho e isso gera conflito e isso eu vivi desde a época do punk. Se enjoar de um vou pro outro, isso dá um respiro e dá tempo. É engraçado porque notei que quando eu faço um show do Kiko Dinucci todo mundo sabe que vai encontrar o Thiago, a Juçara que caracterizam o trabalho também. Aqui o músico não é aquele cara de cara de camiseta preta que vai fazer um fundo pra eu cantar, mas sim um artista que vai definir a estética da coisa. As pessoas não chamam o Thiago apenas por ele ser um bom saxofonista, mas porque ele tem o estilo dele. Não basta ser bom, tem que ter o que dizer e tem que ter diálogo também e isso é uma coisa que eu noto pouco por aí. O que é bacana no show da Karina Buhr, por exemplo, é que ela tem um super time: Edgard Scandurra, o Catatau, o Guizado. Todo mundo que você tocando tem personalidade e um trabalho autoral. Vira então um show de autores. Essas parcerias trazem oxigênio e libera daquele compromisso de ter de gravar um CD. É, claro que eu queria fazer um CD de cada parceria. É um sonho, mas ao mesmo tempo eu não sei se é tão importante fazer um CD. Porque ele hoje é mais um cartão de visita que serve para apresentar seu trabalho. O mais legal é a pessoa ir ao seu show. Eu faço parceria com as pessoas mais diferentes entre si e isso me enriquece como músico. Cada vez que eu entro no universo daquele artista com quem estou fazendo uma parceria eu aprendo pra caramba. Toco com o Sombra, depois com o Rômulo Fróes, que não tem nada a ver um com o outro. Depois eu toco com a Iara Rennó que é outra coisa, com o Instituto. De repente vem o Vil Milton que é mú mutra coisa, com o Instituto, de repente vem o Vil Milton que ue me enriquece como mse impago, a Juçara que caracterizam o trasico de improvisação, o Rob Mazurek que é free jazz de Chicago. Tudo sem medo, livre. Quero um dia olhar pra trás e ver que fiz como o Frank Zappa que fez um disco de cada jeito e bater no peito e dizer que eu sou livre. Eu ainda estou no processo e acho que cada um da minha geração também está, mas não quero me prender a nada e a nenhum rótulo que criaram pra mim. Se eu quiser fazer um CD com orquestra eu posso fazer. Se ninguém me bater ou prender eu faço (rsrrs).
OM2ºATO: A música é o mais forte na sua vida artística, que também envolve o audiovisual e as artes plásticas. Como cada uma destas nuances alimenta a sua musica?
KD: Não são coisas diferentes. Eu sempre parto de uma idéia artística, uma criação. Posso criar uma cena dessa entrevista. Daí vou pensar em qual formato seria legal passar essa mensagem. Quando eu fiz o documentário sobre o Exu eu queria falar uma coisa que com a música eu não conseguia e daí acabei fazendo um filme. Com a gravura eu queria passar imagens que não seriam possíveis com a música. Eu não acordo e penso hoje serei um cineasta ou um gravurista.
Nesses dias eu escrevi um micro-conto e o coloquei no status do facebook e que fez o maior sucesso. Era a história de uma briga que eu tinha visto em um supermercado. Uma mulher foi discriminada por ser nordestina, mas o cara que a discriminou era gay. Ela então começou a gritar, chamando o cara de veado. Ela rebateu com outra discriminação e achei isso muito a cara de SP. Primeiramente ele virou um conto. Mas com a repercussão, fiz uma música. Isso mostra bastante como funciona a minha cabeça. Surge a idéia e depois vem a linguagem.
OM2ºATO: Mas qual delas é a sua preferida?
KD: A arte que eu mais gosto é o cinema. Poderia viver sem música, mas não sem cinema. Não vivo sem poder entrar numa sala escura e ver um filme numa tela maior que eu (rsrsrsrs). É quase uma terapia. Muito da frustração em não poder fazer cinema passei para a música, porque minhas canções contam histórias, são muito imagéticas e isso é por causa da influência do cinema na minha música. A música é o jeito mais fácil pra mim. Esses dias eu gravei uma em casa, postei no youtube, tudo em menos de uma hora.
OM2ºATO: E quem foram as suas influências?
KD: As primeiras foram os discos que meus pais ouviam: duplas caipiras, cantores cafonas, trilhas de cinema, samba. Também ouvia muita rádio por causa da minha irmã que gostava de rock nacional, isso no meio dos anos 80. Isso foi fundamental para a minha formação. Depois, num segundo momento, os músicos do bairro onde morava em Guarulhos. Tinha um vizinho que chamava Luciano que tocava Beatles e Rolling Stones no violão; um outro chamado Cazuza, tocava guitarra. Tinha uma banda de rock e eles me passavam coisas no violão, tocavam e eu ficava olhando o dedo deles no violão. Em casa tentava fazer a mesma coisa. Depois eu comecei a comprar meus próprios discos, de rock, nos sebos, música de festival, Chico Buarque. Sempre fui livre, mas na época do metal era radical, nem tocava no violão que isso era uma heresia. Com o tempo fui querendo aprender acordes. Ninguém tem influência fechada, mas essa da infância é que a mais conta. Mas hoje em dia eu me influencio por tudo que aparece. Aprendi a fazer canção ouvindo Noel Rosa e sempre penso neles quando estou compondo, sempre fico tentando perceber a quem remete: Noel, Adoniran, Itamar. Fico brincando de imitar. Por incompetência, eu imito errado e acaba virando meu estilo (rsrs). Mas eu lembro que tive um baque com uma revista de fascículos que vendia na banca nos anos 70 e os comprava em sebos dos anos 90. Comprava muito, principalmente os de samba: Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Cartola, Assis Valente. Quando eu peguei os do Adoniran e do Paulo Vanzolini e vi esses caras, descendentes de italianos como eu e metidos a criolo, também como eu me deu um estalo: posso fazer samba assim, do meu jeito, porque eu não vou conseguir ser malandro do Rio de Janeiro. Eu sofria, porque, como não era negro, tinha que provar que era um branco que sabia fazer, precisava provar que eu não era um mané e eu sofria porque buscava uma identidade que não era minha. Quando ouvi esses caras, um negócio que só podia ser feito em Sampa, eu entendi todo o sentimento da música. É como um cara de Olinda descobrir o frevo.
OM2ºATO: E para 2011, quais são seus projetos?
KD: Tem CD pra sair agora em abril que é o Meta Meta. Um trabalho bem diferente de tudo que já fiz. Tenho muita coisa pra gravar, uns três, quatro discos na cabeça. O Meta Meta gravamos em 70 horas porque já tínhamos feito muitos shows e a afinidade a sintonia já rolavam. Esse é o lado bom de fazer bastante show antes do disco. O show com a Iara Rennó também pode dar um disco bem legal. Assim como o que faço com o Rômulo Fróes e o Rodrigo Campos. Estou compondo umas canções com letras minimalistas extremas e ultra paulistanas. Mas o que eu mais quero é um disco com a Juçara Marçal que seja parecido com o que fizemos na abertura do show do Femi Kuti, em dezembro de 2010: bateria, baixo, percussão, sopro em formato mais de porrada pra Juçara poder gritar bastante. As pessoas a conhecem pela delicadeza e ela tem esse lado mais heavy que eu quero muito colocar num disco. No mais continuar tocando bastante, explorar o Brasil, trocar mais figurinhas com ele e tentar tocar lá fora, Austin, Miami, Chicago e Nova York. Vai ser legal.
OM2ºATO: E o que ficou do Kiko punk além da postura guerrilheira?
KD: Tem muita coisa do punk que me ajuda a ter os pés no chão e uma visão mais lúcida das coisas, não me deslumbro fácil. Eu tenho um alarme punk que soa toda vez que me sinto um idiota. Não tenho restrição, não sou panfletário, se tiver que fazer uma propaganda da Pepsi e não me sentir um otário e conseguir dormir a noite eu faço. O lance é que fica um alarme que pode soar a qualquer momento e se ele tocar eu mando todo mundo se F….. Mas isso pode ser negativo, me limitar. Eu luto muito com o lado punk, mas ele está aí.