janeiro de 2011

JAMES E EU

Redação

 

 

 

fotos Rafa Henri

 

 

 

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi o vocal aveludado e grave do cantor norte-americano José James. Foi em de janeiro de 2009, no Clube Berlin, em São Paulo, em uma das deliciosas noites de terça-feira que a casa dedica ao Jazz.

 

Entre uma música e outra, o sempre impecável set list do Dj Waltinho Abud, me surpreendeu com um som ímpar, que me fez levantar da cadeira, ir ao seu encontro com um pedaço de guardanapo e uma caneta nas mãos para anotar o nome do cantor que tanto havia mexido comigo. Desde então não parei de pesquisar e acompanhar, virtualmente, a carreira do talentoso James

 

Quem o ouve pela primeira vez tende a imaginá-lo como os grandes mestres do jazz norte-americano da década de 50: um senhor de estilo clássico, trajando um impecável terno preto e sentado à beira de um piano. Nada disso. José James é jovem e dono de uma musicalidade fortemente influenciada pela cultura hip hop (assim como seu estilo de se vestir), pelo soul e o acid jazz.

 

Não há como negar que o músico está tendo um papel fundamental na difusão do jazz pelo mundo, desmistificando o caráter “erudito e elitista” que, há décadas rotulam o ritmo. Graças ao seu potencial em mesclar estilos e o constante diálogo que vem travando com a cultura hip hop, José James tem ampliado as possibilidades sonoras de milhares de pessoas até então avessas à cultura jazzística, especialmente fora dos Estados Unidos.

 

Em outubro de 2010, o músico esteve pela segunda vez em São Paulo (a primeira foi em 2008), para participar do Nublu Jazz Festival, onde realizou duas apresentações nas unidades Santo André e Pompéia da rede Sesc.

 

Acompanhado de uma banda de peso, formada por Marc Cary (piano), Christopher Smith (baixo) e Adam Jackson (bateria), James fez dois shows incríveis, enlouquecendo seus fãs e surpreendendo aqueles que ainda não conheciam seu trabalho.

 

Sua vinda ao Brasil foi um grande presente pra mim e para os amantes deste novo jazz, que tem na talentosa cantora norte-americana Esperanza Spalding um de seus principais representantes.

 

A cereja do bolo de toda esta história foi o rápido encontro que tive com James logo após o show realizado no ABC paulista, onde o músico concedeu uma entrevista exclusiva à revista OM2ºATO. Infelizmente, é verdade, a “cereja” do bolo voou com sua banda de volta para os states, mas o bolo ficou, e agora o dividimos com você!

 

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OM2ºATO – Como você se sente em São Paulo pela segunda vez, sentiu alguma diferença na recepção do seu trabalho?
JOSÉ JAMES – Na primeira vez que vim a São Paulo o álbum The Dreamer tinha acabado de ser lançado e ainda não havia feito uma grande turnê. A quantidade de pessoas é a mesma com o mesmo amor e carinho. Vi jovens de boné como eu, com estilo claro da cultura hip hop, casais, mulheres, crianças…há uma mistura de gerações na platéia e hoje, dois anos depois da primeira vez que estive aqui, me sinto muito mais confortável e feliz com a recepção do trabalho.

 

 

 

 

OM2ºATO – Como é a aceitação da sua música “mais contemporânea e jovem” dentro da cena musical do jazz?
JJ – O jazz permeia a cultura americana. O jazz como um estilo musical tradicional norte americano é a base fundamental e está presente para todas as gerações.

 

 

OM2ºATO – Como você define seu estilo de música?
JJ – Eu e toda banda viemos do jazz, mas talvez o que fazemos não seja um “jazz” propriamente dito. Existem várias contribuições de diferentes estilos neste novo trabalho (Blackmagic), por exemplo. O jazz é uma música negra e nós fazemos um trabalho com várias nuances e colaborações e com liberdade de experimentar.

 

 

 

 

OM2ºATO – Em seu primeiro álbum The Dreamer (2008), você compôs uma letra que leva o nome do disco e que é uma homenagem a Martin Luther King.  Qual é o seu posicionamento político enquanto músico negro e qual foi a intenção ao escrever a letra desta música?
JJ – A letra da música The Dreamer foi escrita para todas as comunidades étnicas.  É um posicionamento político sobre relações sociais que para mim devem ser igualitárias. Ter um presidente negro me fez sentir muito feliz. De alguma forma levo e represento direta e indiretamente os Estados Unidos através da música que canto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

+Discografia

The Dreamer
2008

 

Blackmagic
2010

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.