julho de 2014
AS SEMENTES DE ITAMAR
Serena Assumpcao
Desde a morte de meu pai, Itamar Assumpção, em 2003, eu e minha pequena família de mulheres, estamos articulando, orientando, organizando e disponibilizando ao público seu legado musical, baseadas, principalmente, no que absorvemos do seu pensamento artístico.
Algumas ações executadas foram fundamentais para que este processo se consolidasse intensamente: o lançamento do disco gravado com Naná Vasconcelos Isso vai dar repercussão, um ano após sua morte, em 2004, e o Livro de Canções e Histórias de Itamar – Porque que eu não pensei nisso antes?, em 2006.
Neste mesmo ano, começamos as negociações com o selo Sesc, na tentativa de viabilizar este que é o box com toda a discografia de Itamar remasterizada, e mais dois discos de músicas inéditas. A Caixa Preta, foi lançada em 2010.
Os discos inéditos, chamados Pretobras 2 – Maldito Vírgula e Pretobras 3 – Devia ser proibido, produzidos por Beto Villares e Paulinho Lepetit, respectivamente, encerram a trilogia imaginada por Itamar e iniciada com PretobrasVo. I – Porque que eu não pensei nisso antes…, de 1998. Como compositor compulsivo e artista disposto ao trabalho que era, deixou as músicas prontas e registradas em diversos lugares.
Finalmente, em 2011, foi lançado o longa-documentário Daquele Instante em Diante, que esteve em cartaz por cerca de 40 dias, sem cobrança de ingresso, em todas as salas Itaú-Unibanco do Brasil, em uma ação singular e inédita naquele espaço cultural. Eu e minha família batalhamos isso, juntamente com outras pessoas de mente aberta e arejada, vinculadas à referida instituição. O filme – sucesso de público e crítica, continua a ser exibido eventualmente e gratuitamente.
Há um ano, o diretor da produção, Rogério Velloso, num movimento arrojado e corajoso, disponibilizou o filme na rede de computadores. Declaro que esta movimentação foi apoiada por mim e por minha família, já que, acreditamos no conhecimento e na informação livres, assim como deveriam ser livres todas as formas de expressões artísticas.
Itamar era um desses espíritos inquietos e viscerais e fazia de sua música um movimento contínuo de sua vida privada, a ponto de essas duas vidas se confundirem entre si e se confundirem com outras tantas, vidas, que ele fora capaz de criar e recriar, enquanto esteve vivo, entre nós, no planeta Terra. Penso que ele ainda vive, entre nós, mesmo que num plano mais etéreo e especial, haja vista a quantidade de pessoas que ainda hoje se dizem tocadas por sua obra e arte, independentemente de terem vivido em seu tempo ou não. Sim, Itamar está vivo! E seu legado se encerra jamais.