IMPRENSA NEGRA PAULISTA
No começo do século XX, pouco mais de 20 anos após a abolição da escravatura no Brasil, alguns grupos de homens negros paulistas, sentindo a necessidade de um movimento de identidade étnica que enfrentasse as barreiras de uma imprensa (branca) impermeável aos anseios e reivindicações da comunidade, decidiram fundar uma imprensa alternativa. A idéia era que naquele pequeno espaço físico se concentrassem assuntos que refletissem os desejos, denúncias, bem como a vida associativa, cultural e social dos negros do estado.
Assim, em 1915, começa a circular em São Paulo uma das mais importantes manifestações da trajetória do negro brasileiro na luta pela cidadania, a chamada imprensa negra paulista, cujo primeiro jornal intitula-se O Menelick, criado pelo poeta negro Deocleciano Nascimento. Entre os principais objetivos da publicação estavam a valorização da raça e a divulgação o patrimônio cultural dos negros, além da possibilidade de externar reivindicações, protestos e discussões sobre a inserção do negro na sociedade.
A publicação conseguiu grande prestígio na comunidade negra, difundindo aquilo que os seus redatores achavam mais interessantes para a vida social e cultural dos negros. Apesar de ter tido apenas duas publicações veiculadas, a primeira no final de 1915, e a segunda no início de 1916, O Menelick teve importância fundamental dentro do movimento intitulado imprensa negra paulista, uma vez que após a sua circulação dezenas de outros jornais voltados a problemática negra surgiram no estado (conforme as reproduções ao lado).
Quase um século depois do surgimento do jornal, sentindo a mesma necessidade que fomentou a sua criação e, desfrutando, inclusive, da mesma independência editorial, ética e comercial do jornal O Menelick, a revista O Menelick 2º Ato surge para dar fôlego e continuidade a luta travada por seu antecessor, porém, concentrando sua atuação no campo das artes, com o propósito de difundir, contextualizar e refletir sobre a história, os protagonistas e os movimentos artísticos que compõe a raiz da identidade cultural afro-brasileira.