julho de 2018

CARNAVAL EM LUTA – OS BLOCOS QUE FAZEM TREMER A PAULICÉIA NEGRA

Luciane Ramos-Silva e Nabor Jr.

 

 

 

 

 

 


fotos
 MÔNICA CARDIM / TIAGO SANTANA / MARIANA SER

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bloco Afro Ilú Obá De Min, Bloco Afro Afirmativo Ilú Inã e Bloco Preto Zumbiido AfroPercussivo: três organizações que desfilam no carnaval de rua da cidade São Paulo e levam multidões aos seus cortejos e ensaios retomando e redefinindo o protagonismo negro dentro da mais celebrada festa popular do país, o carnaval.

 

Muito embora suas trajetórias de constituição, suas políticas de participação ligadas a raça e gênero e mesmo suas condutas diretivas guardem especificidades, os blocos compartilham semelhanças por trazerem como foco a pesquisa e a difusão de manifestações culturais negras surgidas do povo e compartilhadas na rua. São estéticas musicais e corporais irradiadas no coração da capital brasileira que abriga um dos maiores percentuais de população negra do país em discursos que ressoam, com notas graves, como potências criativas nos cruzamentos entre arte, políticas de identidade e afirmações de futuros.

 

A partir das lentes das fotógrafas Mônica Cardim e Mariana Ser e do fotógrafo Tiago Santana, o ensaio Carnaval em Luta,  revela a poderosa e necessária reapropriação da tradição dos blocos, provocando uma  nova comunhão negra em torno da alegria, do afeto, da auto afirmação e da ampliação da noção de liberdade a partir da ocupação dos espaços públicos de uma cidade que, sabemos, tem fortes feições segregadoras. Cabe-nos lembrar que essa alegria, quando entendida na perspectiva das culturas negras, não é apenas festiva, mas sim, como afirma o mestre Muniz Sodré, uma espécie de lógica fundadora que revela uma afinação com o mundo. Isso é luzente.

 

 

 

ZUMBIIDO AFROPERCUSSIVO por tiago santana

 

Darília Lilbé soltando a voz durante o cortejo do Zumbiido pelas ruas do centro de São Paulo.

 

À frente da bateria, Munique Costa.

 


 

 

ILÚ OBÁ DE MIN por mônica cardim




“Carnaval é o povo da rua, pulando, dançando, criatividade espontânea, bruxa, mulher, cada um se vira, veste como quer (…) Esse tipo de coisa que eu considero carnaval”, Geraldo Filme.

 

 

 

 

 

ILÚ INàpor mariana ser

 

 

 

OGÒ
(Melvin Santhana e Fernando Alabê)

Eu luto com as armas que o Orum me dá,
LAROYE Exu! MOJUBA!
Legbara prepara a caminhada! Legbara prepara!
Legbara prepara a minha estrada!Legbara prepara!
Legbara prepara a minha entrada! Legbara prepara !
Legbara prepara a minha cara! Legbara prepara !

A pedra por ele atirada amanhã… no ontem caiu.
Feriu mas curou.
Sorriu quem chorou, correu quem não viu.
Nas colinas da vida
Nas entranhas da noite meu corpo fechou.
Quem não acreditou, não vingou pra me ver .
Das intrigas e do mal VIVO LIVRE,
Agó! LAROYE!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luciane Ramos-Silva e Nabor Jr.

LUCIANE RAMOS SILVA é antropóloga, artista da dança e mobilizadora cultural. Doutora em Artes da Cena e mestre em antropologia pela UNICAMP. Bacharel em Ciências Sociais pela USP. Atua nas áreas de artes da cena, estudos africanos e educação. /// NABOR JR. é fundador e diretor da revista O Menelick 2º Ato. Jornalista especializado em jornalismo cultural, fotógrafo (assina com o pseudônimo MANDELACREW as fotografias produzidas para a publicação) e responsável pela produção das imagens e edição dos vídeos da revista.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.