junho de 2019

AFFINITY WITH BRAZIL

Nabor Jr.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Moore, Kabengele Munanga e Melvin Edwards, são alguns dos muitos artistas e intelectuais filhos da diáspora africana que, em comum, além da pele preta e do raro talento, possuem um sentimento sui generis pelo Brasil; sentimento este que o artista e curador baiano Emanoel Araujo, diretor do Museu Afro Brasil, em São Paulo, certa vez – referindo aos trabalhos de Pierre Verger e Carybé – definiu como um “encantamento” pela cultura, pelo povo, enfim, pelos aspectos mais característicos que moldam a subjetividade do país.

 

No caso de Moore, Munaga e Edwards – e demais artistas e intelectuais negros – soma-se a este sentimento de encantamento uma forte sensação afetiva pelos irmãos banhados pelo Atlântico, suas criações e histórias. O fato é que o fotógrafo negro norte-americano Charles Martin, ou simplesmente Chuck Martin, que no próximo dia 7 de junho inaugura a exposição Affinity with Brazil, 1982-present, na June Kelly Gallery, em Nova Iorque, também se enquadra neste perfil: homem negro, filho da diáspora africana e seduzido pela presença negra brasileira.

 

 

Four Moments of the Sun (Bahia, 1994)

 

 

 

Com mais de duas dezenas de viagens ao Brasil no currículo, em um processo iniciado ainda nos anos 1980, por aqui fez amigos, frequentou terreiros, escolas de samba, apaixonou-se, conheceu com profundidade a geografia e o povo de cidades como São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Alagoas, Brasília, Cuiabá…

 

“O que não me agrada não fotografo. Por que guardaria na minha câmera imagens desagradáveis?”

Dono de um fazer fotográfico que privilegia pormenores de cenas cotidianas, seus reflexos, luzes e sombras, Chuck, tal qual os grandes mestres da fotografia mundial, como Henri Cartier-Bresson e Gordon Parks, invariavelmente costuma circular pelas ruas das grandes capitais do mundo com uma Panasonic Lumix LX7 a tira colo – ou melhor, pendurada no pescoço – capturando tudo o que vê, a todo instante. Sem que para isso seja necessário produzir imagens descartáveis.

 

 

 

Reflecting Niemeyer (Memorial da América Latina, São Paulo, 1992)

 

 

Em Affinity with Brazil, 1982-present, Chuck apresenta um pouco da sua profunda afinidade com o país, exibindo fotografias da arquitetura e do povo de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas.

 

 

Distant Lights (Rio de Janeiro, 2012)

 

Pinacoteca Glass (São Paulo, 1994)

 

 

O citado encantamento que o fotógrafo nutri pelo Brasil já pautou uma série de trabalhos que realizou ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira. Primeiro, em 1989, no ensaio Brooklyn to Brazil, exibido na Corner Gallery (NY). Depois vieram Brazil, Paris, New York, apresentado na Cinque Gallery (NY), em 1995; Made in Brazil, na Access Gallery (NY); em 1996. E mais recentemente, em 2008, Also Brazil – Black and White Photographs, na mesma June Kelly Gallery (NY) que até o próximo dia 2 de agosto exibe imagens das afinidades de Chuck com o país.

 

 

Circles and square, Evening Rain (Rio de Janeiro, 2004)

 

 

 

Affinity with Brazil é o reflexo bem emoldurado dos afetos que contaminam a muitos que conhecem o Brasil, traduzido em imagens pelas lentes de um grande fotógrafo.

 

 

 

 

 

 

 

  • June Kelly Gallery
    166 Mercer Street
    New York

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nabor Jr.

Nabor Jr. é fundador-diretor da Revista O Menelick 2° Ato. Jornalista com especialização em Jornalismo Cultural e História da Arte, também atua como fotógrafo com o pseudônimo MANDELACREW.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.