maio de 2016

SOBRE O SEMINÁRIO “TERRITÓRIOS: ARTISTAS AFRODESCENDENTES NO ACERVO DA PINACOTECA”

Redação

 

 

 

fotos Michele Dayane dos Santos (Micha)

 

 

 

 

 

Não há problema algum em artistas afrodescendentes acionarem uma estética ou ideia de estética(s) africana(s) em suas obras, ainda que, saibamos que África é uma invenção ocidental e que existem inúmeros povos/etnias, países neste continente. O que se evoca é a noção de pertencimento e de identidade. Afinal, a concepção do que é europeu também foi construída, e nós compartilhamos de uma visão distorcida e romantizada da Europa. Como, por exemplo, achar que só há loiros na Alemanha, ou que todos no continente possuem ensino superior e consomem música clássica. Isso não é nunca questionado e não, não é verdade.

 

A partir do conhecimento que nos foi propositalmente negado acerca de nossos antepassados enquanto plano de desenvolvimento do Brasil, fomos e vamos, constantemente montando esse quebra-cabeça do que é a África, e nos aproximando de uma origem que frequentemente é colocada no lugar da exclusão e do pessimismo. Desse modo, as evocações positivas que manipulam estéticas e simbologias possuem porquês e não são meras idealizações, até porque não devem ser compreendidas na chave absoluta da objetividade por serem obras de arte, deste modo é preciso alargarmos o seu entendimento/compreensão para o campo da a subjetividade.

 

Triste que questionamentos menores diante de um sistema de arte que se reeduca estejam em pauta. A África se desvela para cada afrodescendente e isso se faz na atualidade via as experiências de si para o mundo. Nesse sentido, sim, nós somos África ainda, de alguma forma, o que há dela no Brasil e nos legitimamos a evocar o que nos pertence, o que nos foi legado.

 

Audácia e atualidade são as palavras que definem o seminárioTerritórios: artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca, carinhosa e lucidamente elaborado como parte das atividades da exposição de mesmo nome. Audácia de Tadeu Chiarelli (diretor da Pinacoteca), que mesmo sendo formado por uma escola eurocêntrica bem sedimentada – como todos nós o fomos – foi capaz de enxergar, validar e valorizar o que vem sendo produzido e visibilizado em bienais do mundo todo: o que os afrodescenentes, os afro-diaspóricos tem a mostrar via suas produções, e mais, como esse arcabouço está na Pinacoteca do Estado, um dos maiores museus do Brasil.

 

Reconhecer e dar continuidade a um olhar que foi lançado pelo maior artista negro do Brasil, Emanoel Araujo, é fazer história da arte do Brasil a partir de paradigmas outros, humanos e atuais.

 

Nós da revista O Menelick 2° Ato agradecemos a todo público presente nos dois dias de debates, a Renata Bittencourt por viabilizar a parceria com a Pinacoteca do Estado, bem como todos artistas, pesquisadores, estudantes e profissionais da arte presentes. Muitos dos quais profundamente admiramos.

 

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.