setembro de 2022

EU SOU UM ESCRAVO FUGIDO

Guilherme Bertolino

 

 

 

 

 

 

Anúncio encontrado pelo autor no jornal Correio Paulistano. Edição publicada em 22 de abril de 1871.

 

 

 

 

Em memória daqueles que pularam no mar na travessia,
eu sou um escravo fugido

 

Em memória daqueles que pularam de penhascos,
eu sou um escravo fugido

 

Em memória das mães que assassinaram suas filhas,
eu sou um escravo fugido

 

Em memória daqueles que não tiveram sobrenome, eu sou um escravo fugido

 

Por todos aqueles que perderam seus nomes,
eu sou um escravo fugido

 

Por todos que perderam membros do corpo por seu trabalho pesado,
eu sou um escravo fugido

 

Por aqueles que foram separados de suas famílias,
eu sou um escravo fugido

 

O capitão do mato me persegue,
porque eu sou um escravo fugido

 

Eu sou um criminoso porque sou um fugitivo e
eu sou um fugitivo porque sou um criminoso

 

Vivi escondido,
Mudei de cidade,
Mudei minha identidade,
por ser um escravo fugido

 

A escravidão acabou, mas ainda me consideram um escravo fugido…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Guilherme Bertolino

Guilherme Bertolino Nunes é historiador (PUC-SP, 2018), pesquisador e educador. Nasceu e mora em São Paulo, onde atua como (arte) educador no Coletivo Fora da Garrafa, em museus e centros culturais. Escreve e pesquisa sobre História e relações étnico-raciais.

A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de reflexão e valorização da produção cultural e artística da diáspora negra com destaque para o Brasil.