setembro de 2013
UM PEQUENO REGISTRO DO DESIGN EDITORIAL BRASILEIRO E A CIA. ALVIN AILEY DE DANÇA
Nabor Jr.
foto Andrew Eccles
Foi em meados de dezembro de 2010, pelas páginas daquela que considero uma das melhores revistas de ensaios do país, a Serrote, do Instituto Moreira Salles, que tive a oportunidade de conhecer o trabalho da carioca Bea Feitler (1938 – 1982), designer e diretora de arte.
Lembro-me que na ocasião, assim como hoje ainda faço (em menor escala, é verdade), dispensava boas horas semanais bisbilhotando o ISSUU e passeando meus olhos por diversos projetos editorias produzidos mundo a fora, em sua maioria contemporâneos. Folheando as páginas daquela que era então a minha primeira edição de Serrote, uma a uma, sem pressa, conforme nos estimula sua inspiradora concepção gráfica, parei meus olhos nos coloridos cartazes de Bea, impressionado pelo vanguardismo da sua produção que teve como ápice os anos 60 e 70, e também pelo objeto do trabalho em questão, a companhia nova-iorquina Alvin Ailey American Dance Theater, que nos próximos dias 19, 21 e 22 de setembro se apresenta na cidade de São Paulo.
Com fotos do norte-americano Bill King, os cartazes faziam um recorte de uma série de peças que a designer carioca produziu para a trupe, ainda então comandada por seu fundador, o coreógrafo e ativista negro Alvin Ailey (1931 – 1989).
“Com serviços gráficos prestados a importantes revistas estrangeiras, Bea Feitler, que aos 18 anos foi para os Estados Unidos estudar na New York School of Design, produziu essa série de cartazes e programas para espetáculos da Alvin Ailey American Dance Theater, em 1971”.
Os trabalhos da designer brasileira revelam, para além de uma “síntese das suas idiossincrasias visuais”, conforme diz o texto publicado na Serrote, o vanguardismo brasileiro quando o assunto é artes gráficas e design editorial. Projetos como as revistas Klaxon, Setenta, Amarello, Serafina (para citar alguns exemplos), com suas refinadas edições de imagens, espelhamento de páginas e layouts que privilegiam o arejamento e o respiro na leitura, comprovam essa afirmação.
Na série de cartazes aqui apresentadas, Bea utiliza fotografias recortadas e aplicadas a um fundo de cor vibrante, contrastantes a beleza escura do corpo negro, ora semidesnudo, em movimentos sincrônicos e plásticos. Os corpos elásticos levemente flutuam no espaço. A tipografia serifada, separada por sutis traços horizontais, ocupa toda a horizontalidade das peças e dialogam (texto e imagem) de forma orgânica com os cliques certeiros de King, reforçando a ideia de movimento e ritmo que marcam o universo da dança.
Uma aula de design editorial para os mestres da dança. Uma curiosa relação de proximidade entre o Brasil, o ativista racial Alvin Ailey e sua cia. do barulho.