julho de 2018
AS ENTRANHAS SONORAS DO HOMEM PRETO – SOBRE A DRAMATURGIA DE JÉ OLIVEIRA
Allan da Rosa
fotos Andre Murrer / Jorge Martins
Este texto foi originalmente concebido para ser publicado
na segunda edição da revista Legítima Defesa – Uma
Revista de Teatro Negro, laçada em agosto de 2017.
Porém, por divergências do corpo editorial da publicação
quanto ao conteúdo proposto pelo autor, o material acabou
ficando de fora da referida edição.
A peça Farinha com Açúcar – ou sobre a sustança de meninos e homens é concebida, dirigida e interpretada por Jé Oliveira, integrante do Coletivo Negro, grupo que desata um teatro que mira e movimenta as vivências da gente preta. A obra de Jé puxou o mote “masculinidade negra” no mesmo ano que outr@s integrantes do grupo puxaram pesquisas e montagens sobre temas como mulheridade negra ou cultura popular. Propondo-se escarafunchar a formação da consciência de homens e das cordas que cerceiam seus pensamentos, dos climas assombrados e traquinas, dos rasgos na esperança e dos sonhos que luzem em pleno genocídio preto, Jé aborda elementos fundamentais sobre o precário equilíbrio do tabuleiro que modela a masculinidade numa periferia metropolitana. O espaço sugerido em voz, cenografia e musicalidade, além do próprio corpo de Jé, referencia o Jd. Zaíra, imensa quebrada nervosa de Mauá, e dá conta de contextos de sobrevivência e de instiga bem semelhantes aos de muitas outras favelas, subúrbios e bolsões de pobreza recheados de famílias negras e migrantes. Os atos em cena ora transbordam realismo, ora se espraiam por fábulas de eriçada fantasia.
Nalguns lances da peça despontam os pilares das estruturas materiais e do sistema econômico, esqueletos da vida social, mas a obra se firma mesmo é na musculatura pulsante do cotidiano, no mapa da mente, no espinho dos gestos, na lama fértil da linguagem e dos perreios que performam identidade, esta que por sua vez, voga na beirada periculosa e no miolo desossado da exploração física, psíquica e espiritual da maioria do povo, especialmente a gente preta. Porém, não sendo panfleto, a obra expõe as entranhas do negro calejado ou arregaçado pelo racismo institucional e detalha motivações de suas quedas e gargalhadas. Em várias passagens ultrapassa mesmo qualquer regime esquemático, abrindo compreensão sobre o papel genocida no plano do estado e nas lógicas dos seus gerentes oficiais, mas trazendo rebotes e desagues contraditórios deste plano nos labirintos da consciência humana, que nem sempre tem condições de traçar pleno entendimento das engrenagens desta estrutura maior que se estende sobre nós desde o escravismo colonial e que parece se transformar, mas não se encerrar. Jé chega a pontear como podemos, esmagados, justamente espraiar tantos tapões e valores que reproduzem a máquina de moer que nos macera, seja nas controversas citações entusiasmadas do direito ao consumo ou na concepção utilitária da companhia de uma mulher. Quando Jé lança que “tênis é um bagulho que nóis gosta, né, mano”, bem contextualizado pela sanha de rodar e pisar com garbo pra enamorar ou pra compor a banca dos camaradinhas sem dever nada a ninguém, ele costura nisto que parece leviano o drama singular de nossos antepassados que eram proibidos de ter sapatos nos pés se escravizados e atualiza os sentimentos da sola andarilha e dos tornozelos inchados. Penetrar com vagar e mergulhar com potência nessas contradições é sanha da arte que não definha em vocabulário pseudo-militante e não se limita a slogans, mesmo com isso trazendo incômodos se crê que estimular compreensão de mundo e de ser é ainda mais do que denunciar barras do sistema e sobretudo desafiar nossas mais espinhosas questões, decepções e erros.
No texto irado, frustrado ou brincante da peça de Jé Oliveira, entrelaçado e arvorado por uma dramaturgia sonora rara e primorosa, os personagens relembrados (ou seria apenas um personagem que atravessa a peça?) não bebem na reta e rasa percepção de que por serem oprimidos e conseguirem traçar uma história de como se vai botando um preto pra escanteio com seus buracos, rebuliços e agonias por isso tenham plena consciência de sua situação histórica, mesmo que moído no cotidiano. Parece pouco mas não é, diante da cavalar fragmentação da dramaturgia contemporânea com uma tonelada de textos pretos politizados que por vezes agradam certa militância exclamativa em vez de pinicá-la a pensar contradições e dúvidas, enigmas e encruzilhadas da história, da sociedade e de si mesmos. Nossas experiências são minério, vivências inseparáveis da reflexão, mas por si, sem a chama de pesquisa e de perguntas que venham sem as respostas previsíveis dos aplausos dados, não cresceremos na compreensão de enredos e construções históricas e urgentes de nossos papéis. Condescendência a um personagem, passar um pano no embaço dos seus limites, não nos leva a amá-lo mas sim ao tapinha nas costas semelhante ao dos patrões.
A experiência de ser homem negro na periferia de São Paulo: “Farinha com Açúcar – ou sobre a sustança de meninos e homens” estreou no Sesc Pompéia, no dia 15 de março de 2016.
Já presenciamos e aprendemos com Guerreiro Ramos, que propôs debates nos anos 50 sobre “representatividade” negra e branquitude, questionando o racismo do pensamento oficial brasileiro enquanto pelejava também nos âmbitos institucionais federais por reforma agrária e nacionalização de indústria farmacêutica. Ramos já frisava que uma coisa é o negro-tema e outra o negro-vida, este que não cabe em gavetas teóricas ou idealizações políticas por ser um constante despiste, camaleão com asas, trilha de mil caminhos. Ramos, água do mesmo mar que Fanon, um ano após a publicação de “Peles negras, máscaras brancas” já lançava que auto-reconhecimento aqui como ser humano, pra um preto passava antes pelo reconhecer-se negro, condição posta e carimbada pela colonização e ao mesmo tempo ponte necessária para não enforcarmos a nós mesmos no espelho, negando troncos que queiram atar ao nosso cangote e cabeça. Aí a vivência no raio do pêndulo, a experiência gingando no tabuleiro espinhoso, quase sempre num lugar que é mais que um, que é um entre-lugares. No mínimo ambígua, mas precisada de perceber-se nessa jangada e ao mesmo tempo não se atolar numa cansativa, lamuriosa e infinda negociação de identidade, se esta não mirar também os pilares estruturais, mentais e materiais de nossa desgrama.
Será que o verbo da peça contemplou também estes campos que habitam o aparente vazio entre a percepção de si e a compreensão das molduras graúdas que nos encurralam, entre o martelo do homem branco, o carimbo da mulher branca e o aperto da mulher preta? Entre um binarismo e um apartheid que tantas vezes nos explica certinho as posições e tragédias sociais brasis, e por outro lado um leque de presenças e situações que deslizam entre frestas e tocaias da mestiçagem? Será que a peça se trançou a lógicas caras à nossa história, como a da dissimulação que antecede a contundência? O texto de Jé se moveu e fertilizou entre vãos áridos e periculosos de nossos desertos cotidianos, tratando dos coloridos que criamos pra não morrermos de secura? Embrenhou-se nos percalços desses patrícios e nos fermentos de sua hombridade e dignidade? Delineou tratos de sua macheza e da cobrada maciça virilidade, esta que também desliza e balança no swing de uma melodia no salão, combinando altivez e leveza, malícia e soltura? Jé tocou nos nossos óculos de lentes tão embaçadas, grudados na cara e construídos na rua entre palavrões e vantagens que o lábio infantil já profere gargalhando na viela, antes que lhe cresça o bigodinho? Sim. Para seu verbo, a peça modelou a argila de depoimentos de 12 pretos de quebrada, alguns já trabalhando no mundo da letra e todos trançados à lábia e ao pranto periférico. E Jé esculpiu na linguagem dramatúrgica histórias que colheu e passagens que inventou, ainda usando como argamassa e imã pra esse texto a poesia de Racionais MC´s, sol do rap, fenômeno único e eterno em nossa cidade e país. Abraçou, dançou junto e formou a função com quem foi farol e bóia em muitos barracos e becos, explosão e vitamina, horizonte que com excelência demonstrou como a violência e a luta, seja em revide fundamentado ou numa rispidez cega e kamikaze, são formadoras viscerais de identidades.
“Jé poderia ter aprofundado ainda mais as faces do machismo preto, esse cultivado a cada dia nas mesas de sinuca, no escadão, na porta da escola, no sofá? Talvez não o fez pelo receio da patrulha ideológica, a que quer slogans ou estrila por linchamentos virtuais e às vezes nas obras exige personagens heróis salvadores, em rasas e largas idealizações frente à nossa asquerosa representação nas mídias, mitos nacionais, cartilhas e out-doors?”.
Assim, na guerra que também é escola, quase sempre masmorra mas às vezes jardim imprevisto, encenando nossos (furados) guarda-chuvas mentais diante da chuva de sangue, Jé ainda trinca a postura do macho de pedra. Orquestra um romantismo que se alicerça nos timbres de Cassiano e nas melodias de Marvin Gaye, indo além também das espadas e trovões dos versos do velho Mano Brown. Assim entrelaça com maestria quenturas macias e tretas nojentas ao perguntar se na hora da morte matada, com o cano engatilhado na nuca, manos fortes teriam já falado ou ouvido pelo menos uma vez um “eu te amo”, se sentiram vontade de urinar, se viram Deus ou o Diabo e se tinham do que se arrepender.
Jé poderia mesmo ter aprofundado ainda mais as faces do machismo preto, esse cultivado a cada dia nas mesas de sinuca, no escadão, na porta da escola, no sofá? Talvez Jé não o fez pelo receio da patrulha ideológica, a que quer slogans ou estrila por linchamentos virtuais e às vezes nas obras exige personagens heróis salvadores, em rasas e largas idealizações frente à nossa asquerosa representação nas mídias, mitos nacionais, cartilhas e out-doors? O texto emaranha-se em outros arregaços e sutilezas, que mal sustentam nossos pilares de barro, barro em que a história nos atola por sermos pretos, lama que conspurca as mulheres pretas do Jd. Zaíra no estereotipo de cama ou nas fendas para negociações quase sempre espoliadas, no retorno do trabalho mal pago e destinado aos piores postos ou na humilhação na escola. É nesse canal que Jé em ampla percepção e matutação do ser homem preto, mesmo que tivesse o machismo como tema básico ou transversal, sabe que se centrasse nas covardias cultivadas nos tapas da cozinha ou até da rua, deixaria ainda outros pontos podres ou cintilantes que são fundamentais nesse copo de Farinha com Açúcar para homens negros. Recordou, narrou, musicou, cantou e vestiu figurino especial à espreita do enfarte e do cangote arriado, das mãos no muro no enquadro policial ou do bolso tão largo pra notas tão raras, da casa que se constrói e não se pode habitar, da angústia na porta giratória e no funeral dos seus caçulas, da fé de alívio no baile ou na Irmandade do Rosário, dos orfanatos, reformatórios, manicômios e do mercado do encarceramento que nos elege o alvo predileto. Do gosto e necessidade em fazer junto, africanamente, no quintal, na sedinha da várzea, no terreiro.
Segundo Jé, a obra se entende como uma peça-show: “para ser ouvida, sentida e vista”.
MIOLO E MÉTODOS DO VERBO EM CENA
ENTRE AS ESTÁTUAS DO PAPEL CONGELADO E O MOSAICO ESFACELADO
Na pele da minha caneta e na tinta de vários pretos na multidão, também vogam beiras de córrego, balaios e baldios onde histórias de famílias se criaram. Com o texto de Jé me vem Tio Paulo que curou raquitismo com água de arroz e namorou três anos por carta com Tia Bárbara lá de Urucânia; vem Tio Zé que venceu a picada de escorpião com água de fumo e jogando o lacrau na água corrente; vem Vó Carmelina que morreu porque o taxista não topou sujar pneu no barro da favela; vem Tio Antônio que ainda miudinho ficou aguado e murchou até se fartar com três frango caipira no prato; vem meu coroa que pagou a promessa de Vó Silvia e cruzou a cidade na sola até a Igreja da Penha pela paralisia infantil curada. E vem mais tantas ciências da banha e do carvão, do avental da firma e da encheção de laje. Das mãos tremedeiras familiarizadas com a cirrose dos muitos copos cotidianos de cachaça, essa que é opressora, é preventiva, é vexame e é quentura. Que é família e escudo do tédio, é colo e fuga da melancolia, da solidão e da fraqueza que não pode ser exposta. É a memória negra ainda temida. Seja este caso da caninha, por exemplo, um balaio pra pensarmos estética da peça. Jé força nos trocadilhos do pingar, mas se erra, erra buscando frisar as diferenças entre o que pinga e o que tomba. Funcional na narração e nos efeitos da importância do tema, mas excessiva por nos afastar do nervo da história diante de algo que evidentemente poderia ser melhor lapidado. Assim é também no “coma” repetido na intenção dos diferentes significados do vocábulo ou no “lápide lapidando” e em mais trechos similares. Mais do que apontar transbordamentos, cabe pensarmos o quanto percebê-los quadrados no fervo da peça come um pouco do encanto de quem assiste, retirados da fluidez e do arrebatamento ao percebermos na linguagem um artificialismo que surge como aquela pedra na boca que mastiga e engole feijão. Os trocadilhos, paronomásias, onomatopeias que Sabotage usou e abusou pra seduzir, lacrimejar e revidar são de nossa herança poética. Vem desde a arte dos djelis mandingas, dos sona de angola que contam historias riscando geometrias na areia, dos versadores de orikis iorubas e das porfias congadeiras que para além de ecos e das gracinhas de trava-línguas, narram com boniteza, inventividade e destreza pra manter a presença honrosa e arteira em reinados e porões. Não é aqui que a verve de Jé cintila e semeia com mais potência.
Somos cutucados com pitadas de humor crítico, os que repicam nas frestas pedregosas da aceitação de si e do que se pode ter e precisar. Há passagens como “O que vou dizer pra aquela mina? Ela acha que sou moreno, mano!”. Em outra, vem os cadarços puídos da nossa história descalça: “Os cara de Nike, tudo os bagulho das Europa.. Eu de bamba, conga, ki-chute… cos pé nas África ainda, né, mano? É osso”. Noutra ainda chama sobre bola, que é também escola rueira: “Os piolhos ajudam no cabeceio”. Tecos fazendo efeito pela desenvoltura da lábia, pelo tom. Discurso em invenção, ancestralidade em movimento, manha de quem forja na maloca com a perda do tampão do dedão e as resenhas de boteco o aprumo entre masculinidade e macheza. Não apenas por estes lances e fagulhas bem adequados ao todo da peça, percebe-se o tempo de fundura da elaboração do texto, por suas ligas e ritmos.
A narrativa com os crivos de poesia pincelada de imagens que arrebatam é uma virtude das falas de Jé, bem mais do que o texto de seus cantos que pra envolverem carecem da trança perfeita entre melodia, ritmo, duração, volume e principalmente letra, com as regras próprias da musicália e com o desequilíbrio de textos musicais que já tem o desafio de parear na mesma peça com a majestade maloqueira dos textos de Mano Brown. Nas imagens contadas como “meu corpo saiu voando por aí e fiquei pra ver a queda” ou “tiraram um espelho de sob os escombros, colocaram sobre os corpos pretos no chão e me disseram: você é isso aqui (…) honra essas mortes e segue em frente” há o transporte no tempo pela habilidade verbal que em cena compõe corpos, época, ideologia, momentos-limite, cotidiano… Na esteira de cada sílaba vem uma ponte de ares, um aviãozinho de papel que acolhe nossa mente vibrando para aterrissar em num balaio de tecos de vidro e carícias de quarto e cozinha, de solidão de banheiro, pontas de lança de portão e rolês azucrinados pelo centrão. Na teia há conjunto, há enredo que nos veste.
Eventualmente o músico Kl Jay, integrante dos Racionais Mc’s, participa como Dj do espetáculo.
Haverá aqui a coesão, a organização e a fundura de um texto concebível num método que não é o do cada-um-por-si a fragmentar individualmente momentos de criação? O de jogos de sala de ensaio que irão caçar possíveis ligas empenhadas ao dramaturgista que será um costureiro de emendas e retalhos acesos? Não sendo “dramaturgia de gabinete”, o texto de Farinha com Açúcar, também entregue a detalhes de composição e dichavado com pesquisa e estudo teórico, nutrido de entrevistas, letras de rap e vivência, desobedece ao que voga nos moldes e modas dos últimos quase 30 anos de tantos grupos. De onde também brotou tanta grandeza em argumentação e personagens, sim, mas em geral inundada de monólogos e vazios de diálogos em cena, quando estes não vieram esquemáticos e sacais e divulgados como criação “colaborativa”, tendo como valor o esfacelamento obcecado por uma qualquer liga salvadora. Tendo como fonte e filtro a estética do picado.
A tecelagem da palavra aqui se centrou no trato verbal com a música, esta que ativa uma cognição orgânica, capaz de futuramente mesclar as memórias de infância e de adolescência que a peça acendeu à uma outra e mesma memória: a do ato em si de presenciar a peça. E então pelos arrepios, hipnoses e traduções das nossas sensações cotidianas em ritmo e melodia, pode se orientar numa compreensão de tempo que é linear e também é espiral. Isso reverbera na boca do estômago, nas lágrimas e nos dentes porque pulsando em cena há o miolo do mito vivo que pra nós e pra tantos mais é Racionais MCs com sua força de texto, procedência, anunciação, pele, momento, acolhimento, raridade e estética vulcânica de toca-discos e rajadas de versos favelados.
Ator e diretor, Jé Oliveira é formado pela Escola Livre de Teatro de Santo André
A peça adentra sim, também, a um chavão do teatro contemporâneo: de novo em cena o ato previsível de servir algo ao público, principalmente algo de comer, talvez numa ânsia quase sempre pouco concretizada de integrar cena e ritual, representação e presentificação, distância e sentimento comunitário. Processo respeitável de busca estética, mas já tão recorrente e batido. Surpresa é quando não há… Porém, já no título desta peça vem a Farinha com Açúcar que irá rodar em copinhos pra quem quiser conhecê-la ou lanhar a nostalgia de tempos precários onde esse era o vulgo alimento ou seu disfarce. O afeto desta passagem, após citações de jantas de vó com legumes e bichos de quintal, se é romantizado também espeta no doce os sensos de revolta, por contextualizar com poesia, tragédia e drama o que antecede o branco daquele pozinho em que há o vermelho sangrado.
“Não teremos ilusão” é o brado que nos recebe logo ao entrarmos no teatro. Mas com os lamentos, estralos e gaguejos da morte, frisando a evitável penca de morte matada e ditando que tudo ali será real, Jé nos enlaça numa tocaia que será desvendada ou reforçada até o fim, após enveredarmos pelos labirintos que nos (de)formam homens e o término do espetáculo com a celebração gozosa e de responsa que destaca o time de músicos pretos. E aqui também há opção dramatúrgica, em plena fonte estética negra que mantém a base redondinha para a vez do solo de cada componente do grupo com seu instrumento e seus pungentes agradecimentos às suas quebradas e amores. Em verbo alinhado ao conjunto sonoro e textual, os músicos Cássio Martins, Fernando Alabê, Mauá Martins, Melvin Santhana e o DJ Will Robson (às vezes substituído simplesmente pelo mestre KLJay) vem ao centro formar com o ator a nobre curriola, a malta com o semblante em riste alegria. Sobrevivente criativa, em punga.