fevereiro de 2009
SOMBRA: O CHÁ QUE É BOM
Nabor Jr.
foto Janaína Castelo
Foi ali no Sarajevo Club, famoso reduto underground da rua Augusta onde freqüentemente músicos da cena indie se apresentam, precisamente no bar que fica nos fundos da casa, que conheci o Sombra. De fala mansa e boa praça, lembro-me que minutos antes de iniciarmos nossa conversa ele estava de pé (aparentemente apreensivo com o início da sua apresentação), do lado oposto ao bar e conversando com um rapaz.
Era um domingo, dia do (segundo) lançamento do primeiro trabalho solo do artista, intitulado “Sem Sombra de Dúvida”. Na mesma noite, também ocorreria a gravação do vídeo-clipe da música “Mano eu vou ali comprar um chá”.
Para um domingo de carnaval, a casa estava cheia, inclusive de mulheres, cena, aliás, que venho reparando em outras festas de Rap também, e que demonstra que foi-se o tempo em que o Hip Hop era coisa de homem, de mano.
Na platéia, nomes como Kl Jay, Kamau, Dj Marco, E.M.I.C.I.D.A entre outras figuras significativas do rap paulistano contemporâneo.
Com minha máquina e um bloquinho de anotação propositadamente à tira colo, aproveitei que o terreno estava “limpo” e me aproxime do “cara” da noite. Cabelo endredado, barba por fazer, camisa e calça larga, lá estava ele, diretamente de Guarulhos, sem bagulhos e cheio de vontade de fazer o Sarajevo tremer.
Já tinha visto a força da sua performance há mais de um ano, no abafado Hole Club. Conhecia um pouco da sua caminhada no SNJ (Somos Nós a Justiça), dos seus projetos mais recentes e sabia que não ia iniciar uma idéia com qualquer mané.
Eram por volta das 23h, o bar ainda não estava muito cheio e restavam cerca de duas horas para o show começar, Sombra me atendeu sem choro e nem vela. Nossa conversa foi boa. Digo isso porque, o entrevistado ficou a vontade e o entrevistador também, e assim a troca de idéias aconteceu naturalmente.
Em cima do palco (já com a pista do Sarajevo bombando), acompanhado pelas pick-ups do Dj Ajamu, Sombra e seu irmão, Gilmar de Andrade, colocaram a casa de cabeça pra baixo com as músicas do bem trabalhado álbum “Sem Sombra de Dúvida”. A noite contou ainda com as participações dos grupos Internamente e Imortais.
Confira a baixo como foi a idéia que trocamos.
***
NOME
Jorge Antônio Andrade.
IDADE
33 anos.
CASADO
Não sou casado no papel, mas moro junto com a minha mulher e me considero casado sim.
FILHOS
Tenho um filho.
TEMPO DE RAP
Já são 15 anos de carreira, mas escuto o som desde 1993.
SNJ
Fiquei 8 anos com os caras. Foi muito loco, um puta aprendizado. Só tenho a agradecer pelo período que fizemos um som juntos.
ACEITAÇÃO DO PÚBLICO
Ta sendo muito boa. Hoje por exemplo, um domingo de carnaval, o pessoal podia ta por aí escutando umas marchinhas, curtindo a folia, mas não, a rapaziada venho escutar um rap e curtir o meu show. Isso é muito firmeza.
Os primeiros mil CD´s prensados já acabaram. Vendemos tudo. Estamos preparando outra fornada aí.
INTERNET
A inclusão digital é fundamental nos dias de hoje para expandir o trampo do artista. Assim as pessoas podem ter acesso a muitas coisas, inclusive informações sobre a vida do artista, pode escutar as músicas que gosta e tal. Acho muito importante esta ferramenta.
CARREIRA SOLO
Desde a primeira letra que escrevi “Ele Está no Mundo da Lua”, sempre quis fazer um trampo solo. E não por querer estar no controle de tudo, mesmo porque nunca estamos no controle de tudo. Era um sonho que sempre tive e que estou realizando.
PRODUÇÃO DO “SEM SOMBA DE DÚVIDA”
A captação de voz foi feita no estúdio Operante, do QAP, do SP Funk. A mixagem é dele também. A faixa 2 teve a captação de voz feita no Ateliê Estúdio, com produção do Kl Jay. O Gilmar de Andrade, meu irmão, o Richard e o Sonar, da França, também participaram da produção do disco.
QUE HISTÓRIA É ESSA DE IR COMPRAR UM CHÁ
Então mano, na realidade a letra dessa música tem um duplo sentido. É lógico que a maioria das pessoas sabe a qual chá me refiro (rs). Mas, ao mesmo tempo, pode ser um chá de erva cidreira, de hortelã, aí fica a cargo da imaginação de quem escutar o som.
PLANOS PARA 2009
Agora, com a Assessoria de Imprensa correndo junto, a idéia é chegar mais próximo do grande público. Fazer mais shows, tocar em grandes casas.
O QUE É RUIM NO RAP
O ruim é que o Rap ainda não recebeu por parte da sociedade o reconhecimento que merece. Ainda não estamos nos grandes veículos de comunicação e nem nas grandes casa de show. E isso é ruim.
O QUE É BOM NO RAP
O bom é que as novas caras que estão surgindo continuam na caminhada dos mais antigos, representando o Rap e divulgando o som.
CONSEGUE VIVER DA SUA MÚSICA
Sim, mas não é fácil. Toda correria acontece de maneira independente, desde fechar shows, entrevistas, até colocar o CD na rua.
PORQUE SOMBRA
Quando era mais novo, em Guarulhos, eu andava pra cima e pra baixo com o Fuminho e o Tié. Daí teve um mano que falou que eu parecia a sombra do Fuminho, porque a gente tava sempre junto no role. O apelido pegou e eu acabei incorporando ele na minha caminhada.